Em tempos de incerteza, muitas pessoas acabam recorrendo ao app de mensagens criptografadas Signal. Seja para proteger conversas delicadas durante um protesto ou manter comunicações privadas, o Signal é, para a maioria, a melhor forma de conversar com segurança.

A popularidade do Signal costuma disparar em períodos de turbulência ou quando outras alternativas parecem menos confiáveis. Em maio de 2020, no auge dos protestos contra a violência policial nos Estados Unidos, os downloads diários do Signal quase triplicaram em comparação à média habitual, segundo a empresa de análise Apptopia.

Já em janeiro de 2021, o aplicativo teve outro pico depois que o WhatsApp — que criptografa chats pessoais de ponta a ponta usando o protocolo Signal — causou confusão na forma como comunicou uma atualização de política de privacidade.

Segundo a Sensor Tower, outra empresa de análise de mercado, os downloads do Signal nos EUA cresceram 20% no Android e 50% no iOS em janeiro e fevereiro deste ano, comparado aos dois primeiros meses de 2024.

Todas essas pessoas podem se beneficiar da criptografia de ponta a ponta, o que significa que ninguém — nem o governo, nem a operadora de telefonia, nem o próprio Signal — consegue ler o conteúdo das mensagens enquanto elas são enviadas de um dispositivo a outro.

O Signal não é o único a oferecer criptografia de ponta a ponta: o iMessage também oferece esse recurso, assim como apps independentes como o WhatsApp. Mas o Signal se destaca tanto pelos recursos avançados quanto pelo fato de seu código ser aberto (open source) há anos, o que permite que criptógrafos e especialistas examinem o app em busca de falhas.

Usar o Signal é simples — afinal, ele é só um aplicativo de mensagens. O WIRED há muito tempo recomenda que leitores adotem o Signal por causa de seus recursos de privacidade, e aqui estão algumas dicas de como aproveitar ao máximo, caso você esteja começando.

Conheça as limitações

Para quem é novo em mensagens criptografadas, o mais importante a lembrar é que não se trata de mágica. Ter o Signal no celular não torna você “invencível”.

Quase 2.000 usuários descobriram isso da pior forma em agosto de 2022. O Signal usa a empresa Twilio para verificar números de telefone e enviar códigos de registro via SMS.

Então, quando invasores comprometeram a Twilio através de uma campanha de phishing, conseguiram acesso aos códigos de SMS de cerca de 1.900 contas do Signal — potencialmente se passando pelos donos dessas contas em seus próprios dispositivos.

O Signal afirma que todos os usuários afetados “podem ficar tranquilos, pois o histórico de mensagens, lista de contatos, informações de perfil, pessoas bloqueadas e outros dados pessoais permanecem privados e seguros, sem terem sido afetados”. Ainda assim, os invasores conseguiram tomar o controle de pelo menos uma conta e se passar por aquela pessoa no Signal.

Em meados de fevereiro de 2025, pesquisadores de ameaças do Google revelaram que hackers vinculados ao governo russo exploraram o recurso de QR code do Signal, que permite seguir uma conta escaneando um código exclusivo.

Os invasores inseriram comandos em JavaScript que vinculavam as contas das vítimas a dispositivos sob controle dos hackers. O Signal lançou uma atualização para corrigir essa vulnerabilidade.

Embora nenhum dos problemas citados (nem o caso Twilio nem o ataque usando QR code) tenha envolvido falhas na criptografia do Signal em si, ambos servem como alerta de que, mesmo um aplicativo voltado para segurança, pode ter pontos fracos.

É fundamental garantir que seu telefone tenha uma senha forte, pois qualquer pessoa com acesso físico ao seu aparelho pode ler suas mensagens.

Se quiser ser ainda mais cauteloso, desative métodos de autenticação biométrica, como impressão digital ou reconhecimento facial, que podem ser usados para desbloquear o aparelho contra a sua vontade.

Mesmo desativar a biometria temporariamente em situações vulneráveis, como protestos, fronteiras internacionais ou controles de segurança em aeroportos, pode ajudar a manter suas conversas longe de olhares indevidos.

O Signal também tem uma versão para desktop, que deve ser segura para a maioria dos usuários. No entanto, computadores enfrentam muitas ameaças, e usar o Signal em vários dispositivos significa mais pontos onde suas mensagens podem ser comprometidas ou roubadas.

Configure com segurança: números de telefone, nomes de usuário e PINs

Quando você se cadastra, o Signal pede um número de telefone. Mas, desde fevereiro de 2024, é possível criar um nome de usuário no Signal em vez de precisar expor seu número para quem quiser entrar em contato com você no app. Falaremos mais sobre nomes de usuário do Signal a seguir.

Se você preferir não usar nome de usuário, seu número de telefone ficará visível para todos que se comunicam com você no Signal. Mas existe uma maneira de não passar seu número particular: usar um Google Voice. Vá até o Google Voice em seu navegador, faça login com uma conta do Google e escolha um número novo.

O Google vai pedir que você informe seu número real para enviar um código de verificação por SMS, que concluirá o cadastro. Agora você pode usar esse número do Google Voice no Signal, mantendo seu número principal em sigilo.

(Atenção: se você não fizer ou receber ao menos uma chamada ou um SMS no Google Voice a cada 6 meses, o Google recupera esse número. Ainda é possível resgatá-lo em até 45 dias, mas convém mandar uma mensagem para seu Google Voice de tempos em tempos.)

Proteja a tela

É importante garantir que o que rola no Signal fique só no Signal, ou seja, evitar que outras pessoas vejam o que você faz no app — seja na tela de bloqueio ou ao trocar de aplicativo. Não faz sentido ter um app de mensagens seguras se elas pulam na sua tela sempre que chegam.

Para desativar as notificações do Signal na tela bloqueada do iPhone, vá em Ajustes > Notificações, role até Signal, toque em Mostrar Prévias e selecione Nunca.

No Android, é um processo semelhante: na tela inicial, acesse Configurações, depois Apps e Notificações, e desative todas as notificações, ou ajuste conforme sua preferência. Se quiser algo mais refinado, abra o próprio Signal. Toque no seu perfil > Notificações > Mostrar, onde você pode definir se vai exibir o nome, o conteúdo e as ações de cada mensagem recebida; só o nome; ou nada.

Também é possível silenciar as notificações de uma conversa específica por um período (1 hora, 1 dia, 1 semana ou 1 ano) tocando no cabeçalho do contato e em Silenciar.

Se você usa Android e quer manter as notificações do Signal, talvez desative as “Respostas Inteligentes” em Configurações > Apps e Notificações > Notificações > Avançado, desmarcando “Ações e respostas sugeridas”. O Google diz que processa essas respostas localmente no aparelho, mas, se quiser ser o mais cuidadoso possível, limite as interações do Signal com o restante do sistema.

O Signal ainda tem um recurso chamado Tela de Bloqueio, que exige a senha (ou FaceID/TouchID, dependendo do caso) para ver o conteúdo do app. No iOS ou no Android, basta abrir o Signal, tocar no perfil, depois em Privacidade, e ativar a opção “Tela de Bloqueio”. No Android, você tem mais controle: pode definir depois de quanto tempo de inatividade o bloqueio entra em ação.

Outra configuração importante é a Segurança de Tela, que impede que o conteúdo do Signal apareça no alternador de aplicativos. No Android, vá ao perfil > Privacidade e ligue a opção “Segurança de Tela”. No iOS, vá em perfil > Ajustes > Privacidade e ative “Ocultar tela no App Switcher”.

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